O Jornal
do Commercio publica hoje entrevista concedida pelo senador Armando
Monteiro à Rádio JC News, do Recife. Na conversa, Armando defende que se
estabeleça um debate sobre Pernambuco, para que o ciclo de desenvolvimento
experimentado pelo Estado possa ser permanente.
Armando também faz uma avaliação do novo
quadro político no Brasil e em Pernambuco após a união entre o governador
Eduardo Campos e a ex-ministra Marina Silva.
Leia abaixo alguns trechos da entrevista:
“O quadro da Frente Popular
está zerado”
José
Accioly
A
junção Eduardo-Marina deu o “start” à campanha de 2014. A avaliação é do
senador Armando Monteiro (PTB), que deixa claro o desejo de disputar o governo
do Estado, ano que vem. Em entrevista ontem à Rádio
JC News,
o petebista ressaltou a “afinidade” com o PT e criticou suposta cooptação feita
pelo PSB aos quadros de legendas aliadas, ação que considerou “hostil”.
PSB-REDE
“Foi impactante e surpreendente (a aliança
Eduardo-Marina). Não há dúvida que qualquer analista não previa esse desfecho.
O que se imaginava é que Marina poderia disputar por outra legenda. Mas foi um
grande lance do ponto de vista político, fortalece o projeto do governador
Eduardo Campos. O que se pode dizer é que passamos a ter claramente uma
definição do projeto presidencial do PSB. Se alguém tinha dúvidas de que o PSB
terá uma candidatura à Presidência, que é a do governador Eduardo Campos, agora
já não há. Isso vai clarificar o processo, inclusive aqui em Pernambuco. A
partir de uma nova candidatura no nosso campo político, o natural é que na
Frente Popular haja uma dispersão. Ela vai se dividir
porque há partidos que vão se alinhar com o projeto
da reeleição da presidente Dilma. E há outros que se alinharão com o projeto do
governador”.
Votos
“Como será entendida a aliança? Como serão definidas
as questões programáticas? Até que ponto o PSB incorporará essas teses? É muito
precoce qualquer avaliação de transferência de voto. Não há dúvida de que essa
junção redimensiona o governador e da sua provável candidatura. É como se esse
movimento tivesse conferido a ele uma posição de maior vantagem do que a de
Aécio.
Antecipação
“Acho que antecipa a definição do processo, na
medida em que vai promover esse realinhamento aqui”.
Com
Dilma
“Há uma posição clara em relação ao PT. O PTB está
na base da presidente Dilma e estará alinhado com a candidatura dela. Quando se
discute aqui a provável candidatura do PTB, sempre disse: da mesma forma que o
PSB se permite discutir a possibilidade de uma candidatura própria no campo
nacional, o PTB também sempre imaginou que teria e deveria ter essa liberdade.
Em Pernambuco, o governador já foi reeleito. Um ciclo novo se abre. No plano
nacional, a presidente é candidata à reeleição.”
PSB
“O que se dizia no interior da Frente
(Popular) antes desse processo é que aqui só se discutiria o processo em 2014,e
que todos teriam que esperar o momento do governador. O fato é que o PSB sempre
considerou que teria uma candidatura do partido. Inclusive, num processo às
vezes estranho. O que dirigentes nacionais
diziam não correspondiam com os de
Pernambuco. Há pouco mais de 30 dias, o
secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira,
listava os Estados em que o PSB teria candidatura própria e começava com
Pernambuco. Já se sabia que havia uma posição tomada de que o PSB teria uma candidatura.”
Movimentos
“Sempre me movimentei. Havia um sentimento,
desde as eleições de 2010, de que tudo que fazíamos no interior incomodava alguns
setores porque era identificado como movimentação de candidatura. E não era.
Sempre fiz isso ao longo do tempo. Não posso deixar de considerar que o nosso
nome vem sendo lembrado por alguns setores dentro e fora do partido e que venho
sendo estimulado por algumas lideranças de Pernambuco a poder discutir uma candidatura”.
Os aliados
“O núcleo fundamental nesse processo é o
PT, o PTB e outros partidos da Frente.”
Tudo zerado
“Num certo sentido, zera. Por que não?
Temos que discutir a partir da nova visão do quadro nacional e podemos aí
discutir sim como podemos reunir essas forças, como isso é possível ou se a
melhor estratégia é ter múltiplas candidaturas.”
PT
“Temos o melhor diálogo com todas as
correntes. Teremos muito respeito pela decisão que o partido venha a tomar, que
pode ser, inclusive, a decisão por uma candidatura própria. O PT é uma força. Quem
imagina que o PT, por conta de algumas defecções e desencontros, possa estar
fragilizado ou condenado a cumprir
um papel menos relevante na política está
enganado. O PT tem espaço, quadros.”
Sem
apoio
“Seria o PSB detentor de uma espécie de direito
natural, direito divino, que pudesse conferir a ele um monopólio dessa
possibilidade de encabeçar uma chapa em Pernambuco? Por que? Esse processo não
pode ser feito assim, a partir de uma posição previamente definida, mas deveria
se orientar por um processo amplo, democrático, de consulta, no sentido de
poder definir critérios políticos claros, quem aglutina, quem reúne, quem
junta. Mas como esse processo se dá por uma definição já prévia de que tem que
ter esse viés partidário, a nossa perspectiva e movimentação se tornaram
naturais.”
Eduardo
“Uma coisa é apontar deficiências na gestão
e relacionar indicadores com essa insuficiência, como aconteceu em relação à
visão crítica do governador com o governo federal. No nosso caso, não fizemos críticas
à gestão no sentido de dizer que na área de educação foi ruim por essas e
outras razões. Estamos fazendo na perspectiva do pós governo Eduardo. É a
constatação de que, embora tenhamos evoluídos muito nos indicadores em termos
absolutos, a nossa posição relativa ainda é ruim. Isso não é uma crítica
endereçada à última gestão ou à gestão atual. Isso é um passivo que Pernambuco
acumulou ao longo do tempo. Nenhuma conveniência política episódica me fará
desconhecer aquilo que for positivo e que for bem feito para interesse de
Pernambuco.”
Estado
“Quando se fala em debater o País também
significa debater Pernambuco, os seus desafios, para que esse ciclo de crescimento
que vivenciamos aqui se prolongue ou perenize. Reconheço avanços significativos
que foram frutos dessa parceria
entre o governo federal com o estadual.
Digo que essa parceria sempre foi valorizada pela competência do governador Eduardo
Campos. Mas nós temos que ter um olhar sobre os indicadores. O debate não pode
ser interditado para atender qualquer conveniência política ocasional.”
Ofensiva
PSB
“Foi um movimento estranho. Você está numa
base aliada, os partidos estão juntos, participam do governo ao longo desse
tempo e um partido líder da aliança investe contra as legendas da própria
aliança no sentido de tirar os seus quadros. É algo difícil de entender. Todos
testemunharam nos últimos dias um movimento na direção do partido líder, vários
deputados de outras legendas, do PTB, do PT, do PSD... Esse foi um movimento que
parece estranho. E hostil.”
Cooptações
“O que se verifica é que, dada a perspectiva
da candidatura presidencial do PSB, é como se ele já estivesse nos colocando
para fora do processo político. É como se dissesse: ‘Nós caminhamos juntos até
agora, mas como provavelmente não caminharemos juntos daqui para frente, então
vou logo procurar trazer aqui para o meu time essas pessoas que poderão sair
dos partidos’. E aí se deu esse movimento traduzido nessa cooptação e disputa por
quadros dos aliados.”
Candidatura
“Tenho o sentimento de que há um espaço
para uma candidatura de que tem esse traço independente, que não nega os
avanços que ocorreram, mas que tenha a capacidade de rever certas prioridades e
posições em nome desse compromisso com o futuro. Temos que ter essa visão
plural. Quando pontuo o fortalecimento do PTB, não o faço para pretender
esmagar ninguém e muito menos para dizer que nós somos autossuficientes. O
fortalecimento é importante porque Pernambuco precisa de um maior equilíbrio de
forças políticas. Pernambuco não pode ter um sistema unipolar.”
Íntegra da entrevista em www.jconlinedigital.ne10.uol.com.br/web/
(É
necessário ser assinante)
Crédito da foto: José Alves/divulgação
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