O
povo Fulni-ô, com uma população de mais de seis mil integrantes, é o
único grupo do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa a própria
língua - o Yaathe, além de uma série de práticas rituais e cotidianas, como o sigiloso ritual Ouricuri, tornando-se
uma referência para todos os outros povos indígenas da região. Para
possibilitar a preservação do seu patrimônio cultural, esses índios de
Águas Belas (PE) acabam de finalizar o documentário “Yoonahle: a palavra
dos Fulni-ô”, com o registro do olhar particular e revelador da
realidade indígena. O lançamento do DVD ocorreu no último dia 4, com a
presença de mais de 500 convidados. A iniciativa é do projeto Vídeo nas
Aldeias e conta com o patrocínio de R$ 50 mil do Programa de Cultura
Banco do Nordeste/ BNDES.
“Esse
filme foi algo inusitado para nós. Estávamos de olhos vidrados,
ansiosos e cheios de expectativas para ver o nossa produção. Foi um dia
inesquecível”, revela Hugo Fulni-ô, habitante da tribo. O projeto, que
também contemplou a implantação de núcleo de produção audiovisual na
aldeia, teve início com a capacitação de seis jovens da comunidade para o
uso de câmeras de vídeo. Eles recolheram mais de 50 horas de material
para o filme. O documentário conta a história do povo Fulni-ô sob o
ponto de vista de seus anciãos, incluindo as práticas da medicina
tradicional, os hábitos do cotidiano, a organização social, a produção
de artesanato, tudo em língua Yaathe.
“Formar
realizadores Fulni-ô para registrar sua história é uma iniciativa de
importância considerável para a manutenção e o fortalecimento da memória
e da cultura entre os próprios indígenas, além de ser ferramenta
valiosa para o ensino da língua”, destaca Fábio Menezes, coordenador das
oficinas de formação com os Fulni-ô. Segundo ele, o projeto de
capacitação audiovisual é também de extrema importância para a Região
Nordeste, pelo fato de divulgar e dar visibilidade à cultura dos índios
nordestinos, que praticamente não possuem registro audiovisual.
O
vídeo será distribuído nas escolas e na comunidade Fulni-ô, bem como na
rede de comunidades indígenas parceiras do Vídeo nas Aldeias. Outros
exemplares também serão prensados para distribuição em festivais
nacionais e internacionais, emissoras de TV do mundo inteiro e outras
instituições interessadas no conteúdo. Além disso, o conteúdo será
divulgado online no site do projeto www.videonasaldeias.org.br.
SOBRE O PROJETO
Criado
em 1987, O Vídeo nas Aldeias é um projeto precursor na área de produção
audiovisual indígena no Brasil. Em 1998, deu início ao programa de
formação de realizadores indígenas, tornando-se escola e centro de
produção de vídeos de autoria indígena. Sua
trajetória permitiu criar um importante acervo de cinco mil horas de
imagens sobre 37 povos indígenas brasileiros e produzir uma coleção de
62 filmes, dentre os quais 24 filmes de autoria indígena, vários
deles premiados internacionalmente. Falados em suas línguas originais,
todos os filmes têm versão em português, e a maioria deles em inglês e
em espanhol.
Desde
a criação do programa de formação de realizadores indígenas em 1998, o
Vídeo nas Aldeias realizou 60 oficinas em 31 povos indígenas no Brasil,
equipando as comunidades com câmeras e acessórios de gravação. Além
disso, desde 2006 o Vídeo nas Aldeias também trabalha na criação da
coleção de DVDs intitulada “Cineastas Indígenas”, com o melhor da
produção de autoria indígena dos últimos 10 anos. Conta com sete volumes
já lançados, organizados por etnia (Kuikuro, Huni Kui, Panará, Xavante,
Ashaninka, Kisêdjê e Mbya-Guarani).
“O
vídeo aproximará esses índios a aldeias de outras regiões do país e do
mundo que dificilmente de outra forma chegariam, sobretudo através do
olhar deles, a ter acesso a essas expressões. Os Fulni-ô, por meio do
vídeo, deixam não apenas um testemunho para as suas gerações vindouras,
mas também para todos os possíveis espectadores de seus filmes, sejam
índios ou não índios. Um atestado de sua singularidade cultural que os
afirmaria perante toda a sociedade”, destaca Vincent Carelli,
coordenador do projeto Vídeo nas Aldeias.
Para
a assessora de comunicação e cultura do BNB em Pernambuco, Ana Paula
Teixeira, essa iniciativa é relevante para a cultura nordestina porque “contempla
a prática, a documentação e a melhoria das condições de
sustentabilidade das representações, expressões, conhecimentos e
técnicas indígenas que as comunidades reconhecem como parte integrante
de seu patrimônio cultural”, explica.
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