Senador
Armando Monteiro diz que o Estado avançou muito nos últimos anos e por isso
aumentou suas expectativas em relação ao futuro
No dia em que filiou seis novas lideranças
ao PTB – dentre elas o deputado estadual Adalberto Cavalcanti - fortalecendo a
legenda para as eleições 2014, o senador Armando Monteiro voltou a defender o
livre debate dos projetos necessários para que Pernambuco continue a crescer
nos próximos anos.
Ao participar de entrevista ao programa de
Geraldo Freire, na Rádio Jornal, no Recife, Armando falou sobre os grandes
desafios do Estado em áreas como educação e infraestrutura.
Para o senador, com as conquistas dos
últimos anos, o pernambucano passou a ter mais ambição em relação ao seu
futuro. “Porque, ao mesmo tempo em que ele percebe que Pernambuco evoluiu muito
na última década, é justo que ele tenha mais ambição e que ele queira fazer com
que Pernambuco realize muito mais nos próximos anos. É este o debate que nós
temos feito”, diz.
Além de Adalberto Cavalcanti, o PTB filiou nesta
segunda-feira (30) aos seus quadros lideranças como Rodrigo Dias (filho do
ex-deputado Romário Dias); o empresário Giney Francisco, de Carpina; o médico e
ex-vereador de Jaboatão Ricardo Moraes; o comunicador Edeilson Lins; e o
empresário da área de publicidade Aguinaldo Viriato de Medeiros.
Veja
abaixo os principais trechos da entrevista a Geraldo Freire:
Experiência executiva de
Armando
Armando
Monteiro –
“Este debate sobre gestão é um bom debate e nos remete a considerações
interessantes. Por exemplo, do ponto de vista privado, eu tive 35 anos atuando
em Pernambuco em áreas muito difíceis, como por exemplo a da indústria de bens
de capital na região. E tenho uma longa vivência na área de gestão. Tenho
colaborado inclusive com Pernambuco, e isto é público. O vice-governador João
Lyra, o governador Eduardo Campos, já disseram publicamente, há registros, de
que quem fez a aproximação do governo do Estado de Pernambuco com o INDG
(Instituto de Desenvolvimento Gerencial) e com o Movimento Brasil Competitivo,
fomos nós. Ou seja, este modelo que está em curso em Pernambuco nós demos uma
contribuição decisiva para que pudesse ser implantado. É um modelo que tem o
Dr. Vicente Falconi como consultor e grande expert,
hoje reconhecido internacionalmente, e Dr. Jorge Gerdau como grande animador
deste Movimento Brasil Competitivo”
Modelo de gestão de
Pernambuco
Armando
Monteiro –
“O que é que se traduz neste modelo que Pernambuco adotou? Conceitos
elementares de gestão. Por exemplo, quem não mede não gerencia. Eu só posso saber
se tenho resultados se tiver uma métrica para medir estes resultados. Como é
que se dá o processo de monitoramento dos programas, em todas as áreas? Que
indicadores nós devemos construir? Por exemplo, quando fui presidente da
Confederação Nacional da Indústria ( CNI),
há uma figura decorrente deste modelo em Pernambuco que se chama Mapa da
Estratégia. Em 2005, nós introduzimos na CNI o chamado Mapa Estratégico da
Indústria, que tem como base uma metodologia que é o BSC, o Balance Score Card,
que nada mais é do que uma forma de construir indicadores para medir os
resultados da gestão”.
A situação das
estradas
Armando
Monteiro – “Há
um quadro realmente que coloca Pernambuco em uma posição de desvantagem. Há um
estudo recente de competitividade da unidade de inteligência da revista The Economist, que faz uma avaliação da
competitividade de todos os estados brasileiros, e coloca Pernambuco no grupo
mais baixo do estudo em relação à situação especificamente das estradas. E eu
lembro também que o Banco do Nordeste, em 2010, publicou um estudo sobre a
malha viária de Pernambuco, e coloca o Estado também na penúltima posição. A
última é Sergipe, a penúltima é Pernambuco. Então é um dado de realidade, nós
não estamos fazendo aqui um juízo de valor. É um juízo de realidade. É claro
que não se pode endereçar ao governo, ao último governo... Há um passivo que
também se acumulou nesta área e evidentemente não se pôde resolver, não se pôde
equacionar. Então há sim hoje uma visão de que Pernambuco tem nesta área uma
deficiência grave, do ponto de vista de custos sistêmicos. A infraestrutura e o
setor viário de Pernambuco precisam avançar, precisa ser requalificado de forma
ampla, e isto exige um esforço grande de investimentos. Por exemplo, quando a
gente fala da reta de Ibimirim, isto é uma pendência que se arrasta em Pernambuco
há décadas, e o Estado atuou diante de certas prioridades que se colocaram.
Agora, eu não estou dizendo que não há responsabilidades, eu estou dizendo que
o quadro que se acumulou, a situação decorre de uma ação mais efetiva ao longo
de décadas. A BR-232, primeiro, não foi entregue, não foi aceita pelo
contratante, que foi o Governo de Pernambuco, porque há uma discussão, há um
contencioso, entre a empresa que executou e o Governo do Estado. Portanto, ela
não foi entregue e precisa de um plano de manutenção. E este plano de manutenção
envolve recursos expressivos por ano. Então, é uma situação que nós temos de
equacionar”.
A agenda do Brasil e
de Pernambuco
Armando
Monteiro –
“É justo que se discuta permanentemente uma agenda para o Brasil. Todo mundo
pode discutir o problema da educação no Brasil. Quem é que pode desconhecer que
um dos maiores desafios do Brasil é o nosso sistema educacional? E aí tem que
se discutir isto. O que fazer para melhorar? Como avançar nesta área? Em
Pernambuco, por exemplo, nós temos o IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica). Quando a gente avalia o quadro da educação em Pernambuco nós
temos uma posição relativa que ainda é ruim, em que pese os grandes avanços que
ocorreram. Mas, no último IDEB, quando você pega ensino fundamental, anos
iniciais e anos finais, e ensino médio, Pernambuco tem a 18ª posição, a 22ª e a
16ª, em cada uma destas áreas. Ainda é uma posição ruim. Enquanto isto o Ceará
tem, nestas mesmas áreas, a 12ª posição nos anos iniciais do ensino
fundamental, a 7ª nos anos finais e a 8ª no ensino médio. É um dado de
realidade. Nós melhoramos? Melhoramos ao longo dos últimos anos, mas precisamos
avançar mais. Isto é uma posição relativa. Você pode andar depressa, mas se
alguém andar mais depressa que você a sua posição relativa piora. Este tema (a
educação) no Brasil e em Pernambuco não há como deixar de se discutir”.
O crescimento do
Brasil e de Pernambuco
Armando
Monteiro –
“Em relação ao Brasil, Pernambuco cresceu mais, mas cresceu mais ou menos em
linha com o Nordeste. Não cresceu mais do que o Nordeste. Cresceu em linha. No
último ano crescemos menos do que o Ceará e do que a Bahia. E este ano o estudo
que foi divulgado do índice de atividade econômica do Banco Central, relativo
ao primeiro semestre, coloca Pernambuco novamente na terceira posição. A Bahia
cresce 6.1%, o Ceará cresce 3.4% e Pernambuco 1.8% neste índice correspondente
ao primeiro semestre, divulgado pelo Banco Central do Brasil. E no ano passado
nós crescemos menos do que a Bahia e o Ceará. É evidente que se poderá dizer,
isto é um ano, um ano e meio. Mas o fato é o seguinte: Pernambuco cresceu mais
do que o Brasil, cresceu mais ou menos em linha com o Nordeste, e no último ano
e neste semestre tem crescido menos do que a Bahia e o Ceará. Eu estou me
baseando, por exemplo, em estudos como o da Ceplan (Consultoria Econômica e
Planejamento), que tem gente muito qualificada nesta análise. Eu acho que tem
uma explicação técnica, que é uma espécie de hiato de produto. O que é que
significa isto? As grandes obras que afetam o PIB, mesmo quando estão em
implantação. Você está construindo uma fábrica, tem muita gente, aquilo entra
no cálculo porque entra no nível da atividade da construção civil. Mas as obras
vão terminando e aquela unidade ainda não produz. Então você tem uma
desaceleração, porque o ritmo da obra já diminuiu, e você não tem ainda o
produto. Um exemplo é a refinaria. Você já está em um estágio a esta altura de
quase 80% de índice de implantação e ainda não produziu nada. Portanto, há um
momento em que há este hiato. Você não terminou ainda a obra, mas já está
empregando menos na obra e ao mesmo tempo não tem o produto ainda. Então eu
acho que este é um momento em que isto afeta negativamente. Eu acho que para
este desempenho de 2013 contaram negativamente a construção civil e um pouco
também a indústria de transformação”.
O PTB se afastará da
gestão Eduardo?
Armando
Monteiro – “Me
deixe contextualizar. Primeiro eu não fiz críticas à gestão, eu não enderecei
todo este passivo que nós temos a uma gestão. Eu destaquei inclusive os avanços
que foram obtidos, por exemplo, no plano da própria educação. Mas acho que todo
mundo tem de debater Pernambuco. Por que não? Pernambuco tem que olhar para
frente. Pernambuco, ao mesmo tempo em que reconhece o que possa ter havido de
positivo nesta gestão, e tem muitas coisas, tem que pensar nos desafios que se
colocam para o futuro. Porque, veja, este impulso que nós tivemos sobre a
economia, se nós não continuarmos a promover ações estruturantes e ações bem
planejadas, Pernambuco vai perder este impulso.
Os grandes projetos estruturadores,
refinaria, FIAT, as plantas petroquímicas e a indústria naval, se você não
fizer uma melhor articulação disto com a base industrial existente no Estado,
para aproveitar, para internalizar, multiplicar os efeitos disto na economia de
Pernambuco, o que pode acontecer é este processo vazar para outros estados. Por
exemplo, no caso da FIAT, se nós não cuidarmos da infraestrutura e de algumas
questões urgentes, vai haver um vazamento deste efeito para a Paraíba, o que já
está tendo”.
Os desafios de
Pernambuco
Armando
Monteiro –
“Há um longo desafio pela frente ainda, da infraestrutura, da capacitação e
qualificação de recursos humanos, na questão das ações para interiorizar, para
distribuir melhor o desenvolvimento espacialmente. Por exemplo, o pernambucano
do Sertão tem um terço da renda do pernambucano da área metropolitana. Então,
há grande concentração da atividade econômica na área metropolitana. Agora,
vamos reconhecer o seguinte: quando o governador induziu a localização da FIAT
em Goiana foi uma ação inteligente para promover uma desconcentração do
desenvolvimento. Porque antes a FIAT ia lá também para Suape, para áreas
próximas de Suape. Agora, quando eu faço estes registros, das insuficiências,
do longo caminho que temos a percorrer, é um debate que Pernambuco tem que ter
em conta. E eu digo que tem sempre duas posições perigosas, uma é a dos
pessimistas, dos céticos, dos que negam tudo, dos que ficam só criticando. E a
outra é dos que acham que Pernambuco já ingressou no “clube dos ricos”. Não.
Nós temos um longo caminho a percorrer. Sabe qual é a renda do pernambucano em
relação à renda do brasileiro? É metade. Em relação à renda do brasileiro do
Sudeste é um terço. Então nós temos um longo caminho ainda a percorrer. Isto é
o que eu tenho dito. Não é mais a questão de discutir qual é a parte que cabe a
cada governo, mas discutir os desafios que Pernambuco tem pela frente. O
pernambucano passou a ter mais ambição ainda, legítima ambição, em relação ao
seu futuro. Porque ao mesmo tempo em que ele percebe que Pernambuco evoluiu
muito na última década, é justo que ele tenha mais ambição e que ele queira
fazer que Pernambuco realize muito mais nos próximos anos. É este o debate que
nós temos feito”.
É justo ter projetos
próprios
Armando
Monteiro – “Com
a reeleição do governador abre-se um novo ciclo na política pernambucana.
Porque o que nós pactuamos nesta frente é estarmos juntos na medida do
possível. Mas na medida em que o governador se reelege, e agora ele não pode
mais disputar reeleição, então é justo que os partidos que integram esta frente
discutam este processo e também aspirem ter projetos próprios. Por que teria
que ser necessariamente do PSB o candidato à sucessão? Isto é um direito
natural? É um direito divino? É mais uma imposição do que circunstância? Não.
Eu acho que é justo que se discuta isto, como entendo que o PSB pode ter um
candidato, o PT pode ter um candidato, o PTB pode ter um candidato. Por que
não? Ora, se no plano nacional nós estamos na base de Dilma, inclusive o PSB,
Dilma é candidata à reeleição e o PSB se permite, no que é legítimo, discutir
uma candidatura própria, mesmo sendo Dilma candidata à reeleição, por que é que
em Pernambuco, já tendo sido reeleito o governador, não seja razoável que um
outro partido da Frente não possa discutir isso?”
Assédio às bases do
PTB
Armando
Monteiro –
“Eu tenho dito o seguinte, quando me perguntam sobre este assédio às bases, que
é um cerco de carinho. Veja, eu não quero chegar a este ponto, agora sei que os
jornais anunciam que tem deputados que estão saindo do partido e indo direto
para o PSB. É algo que você deve imaginar estranho. Quer dizer, você tirar um
deputado que já é da base aliada para levar para o PSB, é um movimento que fica
parecendo a todos um movimento hostil. Não é um movimento que seja
caracterizadamente de aliado. Portanto, estamos analisando estes dados,
processando e, no momento próprio, vamos dizer, tomar o nosso caminho”.
Posicionamentos do PTB
Armando
Monteiro –
“Eu sempre sublinhei uma posição nossa, que é de independência. Lembrem-se que,
quando houve aquele episódio da PEC da Assembleia... Geraldo às vezes me fez,
no rádio, uma indagação: ‘Olha, estão dizendo aí que vocês (do PTB) vão romper
com o governo’. Eu disse a Geraldo: ‘Eu sou um aliado, não sou subordinado’. O
aliado é aquele que tem que ser leal, mas tem a sua independência, pode
discordar em determinadas circunstâncias, como discordei naquele episódio da
PEC”.
Parcerias bem
sucedidas com o governo federal
Armando
Monteiro – “Eu
sempre fiz em toda a minha caminhada em Pernambuco, e há registros de todas as
rádios do Estado, reconhecimento ao governo. Agora, eu sempre digo o seguinte:
Pernambuco teve a felicidade de fazer uma parceria com o governo federal muito
bem sucedida, que foi valorizada pela competência e pela capacidade de
articulação do governador Eduardo Campos. Mas foi essa feliz circunstância, de ter
um governo federal sempre disposto a apoiar Pernambuco. Não há um único desses
grandes projetos que não tenham na origem uma decisão do governo federal.
Agora, a capacidade de Pernambuco de poder reagir rapidamente, de apresentar os
projetos, de poder se articular com competência que ocorreu no governo Eduardo Campos,
isso valorizou essa parceria e nos permitiu colher esses resultados. Mas, veja,
na Refinaria Abreu e Lima, ainda no governo Jarbas, houve a decisão,
contrariando interesses de estados aqui do Nordeste, e o presidente Lula bancou
(a escolha de Pernambuco). As plantas petroquímicas foi uma decisão no âmbito
da Petrobras, especificamente dentro da Petroquisa. A ideia de desconcentrar a
indústria naval foi uma decisão do presidente Lula, uma decisão típica de
política industrial. Qual é o cliente desses estaleiros, o único cliente deles?
A Petrobras. E foi a Petrobras que induziu esse movimento, de dizer: ‘Vamos
inaugurar estaleiros novos no Rio Grande do Sul, em Pernambuco etc.’ Quando se
define a localização da Hemobrás, é uma decisão política. Quando a Fiat vem
para o Nordeste, tem o regime automotivo do Nordeste, que confere incentivos
fiscais para que essas unidades pudessem ir da Ford na Bahia à Fiat Pernambuco.
Não pode-se deixar de reconhecer isso. Você falou de parceria com o Governo
Federal. É muito importante”.
(Crédito da foto: José Alves/Divulgação).
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