O papa Francisco em poucos dias de pontificado tem feito gestos que sinalizam mudanças no Vaticano e na Igreja Católica. Não aceitou usar a tradicional capa vermelha, que era usada com orgulho por seu antecessor, considerou exagerado o espaço do seu apartamento, em Roma, chegando a observar: “Há espaço para 300 pessoas aqui”.
Isso aí e muito mais é revelado pelo jornalista David Hilley, da BBC italiana, num bom artigo reproduzido no blog do professor Rafael Brasil.
A própria eleição de um papa argentino e além do mais da Ordem dos Jesuítas representa uma mudança e tanto na Igreja de Pedro.
O nome adotado, inspirado numa frase do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, aconselhando a “não esquecer dos pobres”, também tem uma simbologia muito forte.
São Francisco de Assis, quase todo mundo sabe disso, foi o santo da Igreja Católica que bateu de frente com a pompa da cúpula romana, defendendo a volta aos princípios do cristianismo. Contrariou mesmo seus pais, que eram ricos, quando resolveu viver uma vida na pobreza e doar o que tinha aos miseráveis.
Exemplo de humildade, Francisco de Assis pregava:
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
O cardeal Mário Jorge Bergoglio levava uma vida modesta na Argentina. Morava em instalações modestas, andava em Buenos Aires de ônibus e de metrô.
Nem todas as notícias sobre o novo papa levam ao caminho da santidade. Em 2005 o religioso foi acusado de ter compactuado com a ditadura militar que seqüestrou, torturou e matou centenas de pessoas.
Essas acusações voltaram à tona agora, inclusive com discussão nas redes sociais, principalmente pelo twitter.
“Vários amigos latinoamericanos não estão comemorando. O papa Francisco é aparentemente um jesuíta conservador; não se opôs à ditadura argentina”, escreveu um escritor canadense usando a internet.
Um argentino, Carlos Burgueno, saiu em defesa do papa: "Cuidado ao desencavar muito sobre o que fez Bergoglio durante a ditadura, ele pode ter salvo mais pessoas que todos vocês juntos”, disse no twitter, cutucando os patrulheiros à esquerda.
O assunto foi parar na Revista Veja. A publicação da Editora Abril cita que o caso de Bergoglio foi parar nos tribunais, mas o cardeal foi inocentado.
Uma defesa mais respeitável do novo papa foi feita por Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz.
“Bergoglio é questionado porque dizem que ele não fez o suficiente para tirar os dois padres da cadeia enquanto ele era o superior da Congregação dos Jesuítas, mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar para soltar presos e padres e seus desejos não eram atendidos. Eles eram avisados de que os prisioneiros seriam soltos, mas isto não acontecia.”, escreveu o argentino Esquivel, conhecido e premiado pela sua luta a favor dos direitos humanos.
Francisco não tinha uma boa relação com Nestor Kirchner e os atritos continuaram com a atual presidenta, Cristina. Daí podem estar surgindo acusações e boatos. Já disseram até que o novo líder da Igreja Católica éperonista.
Muitos não gostaram do papa também porque ele é radicalmente contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas aí queriam o quê? Isso é dogma na Igreja Católica, seria de estranhar era que aparecesse um papa aprovando essas medidas.
Naturalmente para ele ser coerente com suas ideias terá de combater a pedofilia e o homossexualismo dentro da Santa Igreja.
O mais importante, acredito, é ter certeza que o papa Francisco não colaborou com a ditadura argentina. Fundamental é essa opção pelos pobres, é a postura franciscana e cristã da humildade.
O futuro dirá quem é mesmo Dom Jorge Mario Bergoglio, agora o papa Francisco.
Roberto Almeida
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