Noivos do casamento matuto a cavalo, em Pesqueira
O casamento matuto é uma das tradições mais antigas dos festejos juninos. Em Pesqueira, no Agreste de Pernambuco,
não é diferente, mas lá o casamento acontece a cavalo toda véspera de
São João, há 46 anos. Por isso, aproximadamente dois mil cavaleiros de
todas as idades e dos mais variados lugares seguiram para a casa de
Minervino Osório, que organiza o casamento matuto a cavalo desde o seu
primeiro ano.
Caprichoso e apaixonado pelo evento,
Minervino lembra que no primeiro ano eram apenas 25 cavaleiros. "Eu sou
nascido em Buíque, mas vim com 15 anos para cá. Via as quadrilhas,
achava bonito, mas sentia falta da minha cidade. Os casamentos lá
acontecem a cavalo, aí juntei tudo e fiz o casamento matuto a cavalo
aqui em Pesqueira", explica o aposentado.
Minervino Osório e Adecy Leal são os anfitriões da festa
Desde 1966, a festa vem acontecendo
tradicionalmente na tarde do dia 23. Casada há 56 anos com Minervino,
Adecy Leal abre a casa para a festa e reúne toda a família para tudo
ficar perfeito. "Tenho dez filhos, 17 netos e quatro bisnetos. Eles vêm
quase todos para o casamento, todos os anos", conta Adecy.
Para receber os convidados, a casa é
toda enfeitada. "A gente se prepara o ano todo, mas uma semana antes
começa a organizar tudo. É muito trabalho, fazemos as flores de papel
para enfeitar os cavalos, os brindes para quem vem, fora a comida",
detalha Oneide Leal, que admira o amor do pai pelo evento. "Ele acorda
cinco horas da manhã e vai até tarde da noite, para tudo ficar
perfeito", entrega a filha.
Um dos postos mais disputados nesse
casamento fictício é o de noiva. "Toda noiva que casa no meu casamento
matuto, acaba casando de verdade depois", confidencia Minervino. No ano
passado, a noiva foi uma das filhas do aposentado, Osineide Leal. "Eu
quero casar. Ano que vem vou ser noiva de novo para garantir", brinca
Osineide.
A noiva deste ano foi uma das sobrinhas
do organizador da festa, Maria Amália Santos. "Eu já casei uma vez, mas
separei. Agora quero casar de novo, mas quero outro noivo. Estou aberta a
convites", avisa Maria Amália. "A gente vai se revezar no posto até
casar", diz Osineide.
Festejo reúne aproximadamente dois mil cavaleiros
O casamento acontece em frente a Igreja
Matriz, no Centro de Pesqueira, depois do passeio percorrer as ruas da
cidade, com os noivos a frente em uma charrete sendo seguidos por uma
multidão de cavaleiros. "Eu adoro poder passear com todo mundo, é muito
bom", acredita a policial militar Ana Naiara Martins.
A cerimônia é marcada por muita
irreverência, arrancando risos de quem acompanha. A apresentação tem
direito até a noivo fujão, padre gago e noiva desesperada para casar. "É
sempre divertido, a gente se distrai", conta a noiva Maria Amália.
A aposentada Maria Isabel Lopes D'ario
veio do Guarujá, em São Paulo, para conferir o casamento. Fã do São João
tradicional e familiar de Pesqueira, ela trouxe neste ano a sobrinha de
Brasília, Carmelina Neta Carvalho Rodrigues, para ver a festa. "Vim só
por causa do casamento matuto a cavalo, nunca vi uma coisa dessas. É
espetacular", elogia Carmelina.
Tradição
Quem vai um ano ao casamento matuto, acaba voltando em outros. Ao menos, é o que entrega o autônomo Diogo Melo. "Eu vim a primeira vez só para ver como era, mas acabei gostando e venho todo ano", conta Diogo. O mesmo aconteceu com os primos José Apolo Cavalcanti e José Genildo da Silva. "Depois que comprei um cavalo, comecei a vir e não deixei mais", explica José Genildo.
Quem vai um ano ao casamento matuto, acaba voltando em outros. Ao menos, é o que entrega o autônomo Diogo Melo. "Eu vim a primeira vez só para ver como era, mas acabei gostando e venho todo ano", conta Diogo. O mesmo aconteceu com os primos José Apolo Cavalcanti e José Genildo da Silva. "Depois que comprei um cavalo, comecei a vir e não deixei mais", explica José Genildo.
Vinda da tribo de índios Xucuru de
Pesqueira, Maria Damina Pereira é uma das que também não perde um ano.
"É sempre animado, eu acho uma tradição muito bonita. É um prazer poder
participar, quanto mais você vem, mais você quer vir", acredita Maria
Damiana.
Antônio Cesário mora em Sanharó, também
no Agreste pernambucano, e faz o percurso até a cidade vizinha todos os
anos a cavalo. "Adoro cavalgadas, não tem muito tempo, fiz uma de 25
quilômetros até São Bento do Una", conta Antônio, que vai sempre
acompanhado do filho, Kêba Cesário, e dos netos, Kauê, de 8 anos, e
Kainã, de apenas três, o mais novo dos cavaleiros na festa. "Fazendo
chuva ou sol, eu venho. Os meninos adoram também, vem sempre comigo",
conta Kêba.
Fábio Guilherme canta toada para os cavaleiros
O agricultor José Fábio Barbosa também
leva o filho, Fábio Guilherme, todos os anos para conferir o casamento.
"Trago ele desde os dois anos de idade. Ele já sabe montar, só está
comigo no cavalo porque emprestei para o meu irmão o meu cavalo",
explica José Fábio. E o que o filho mais gosta no casamento? "Gosto de
tudo, mas adoro cantar", admite o menino, que arrancou aplausos do
público ao cantar toada diante dos cavaleiros.
Darcio Rabelo (Fotos: Katherine Coutinho/G1)
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