“NÃO VAI TER COPA” é o mote de protestos
marcados para o dia 25 de janeiro, em todas as capitais, ou pelo menos
nas “capitais da Copa”. Seria um ensaio da reestreia dos protestos,
iniciativa de alguns daqueles grupos que desencadearam as manifestações
de 2013.
Como tais grupos são desarticulados e
dispersos, é difícil saber o que articulam. Muito menos é possível saber
se vai haver repeteco da articulação esdrúxula, acidental e mesmo
indesejada entre pequenos grupos de esquerda e massas indignadas mas
apolíticas, o grosso de quem foi às ruas.
A Copa é, óbvio, um prato cheio de
desperdício, politicagem autoritária, incompetência e outros acintes. A
depender do gosto do freguês manifestante, não vai ser difícil
contrastar essa despesa perdulária e arbitrária com algum motivo de
revolta com a selvageria social e a inércia política brasileiras.
Vai colar? O 25 de janeiro pode ser um
fiasco, ao menos em termos midiáticos, pois os ponta de lança da onda
inicial de junho, os estudantes, ainda estarão de férias. Mas não convém
especular com hipóteses fáceis.
Junho de 2013 não apenas começou como se
desenvolveu e terminou de modo imprevisto, com ondas de choque se
espraiando em direções diversas, um miniBig Bang político-social.
Houve os notórios, midiáticos e então
subitamente submersos Black Blocs, mas muito mais. Houve revoltas contra
a violência polícial em bairros paulistanos de “classe média baixa”, um
dia bastiões de voto conservador. Houve séries de protestos de
associações de gente deserdada da periferia, a bloquear estradas e
avenidas nos fundões da cidade. Não há como saber se mesmo um 25 de
janeiro fraco vai reanimar brasas dormidas ou revelar novas
organizações.
Pode haver fastio: muita gente pode ter
se desencantado com a inconsequência prática dos protestos; de resto,
revolução permanente não é o estado habitual de gente alguma, exceto em
cataclismos históricos raros, seculares. A tentativa de repeteco de 2013
pode, assim, não colar.
Pode haver oportunismos: as
manifestações fizeram estrago sério no prestígio de governos. O tumulto
nas ruas pode ser obviamente um instrumento para avariar, ao menos, o
prestígio de quem quer que esteja no poder, mas de petistas em especial.
Repetir 2013 pode ser arma eleitoral.
O leitor, que é perspicaz, pode refutar
tudo isso com um “especulativo, protesto”, como se diz em filme de
tribunal americano. Mas há de concordar que são demasiadamente ricas
para não serem exploradas as oportunidades políticas e politiqueiras de
um ano de Copa com eleição e eventual tumulto de rua transmitido pelo
mundo inteiro.
Enfim, o caldo socioeconômico pode estar mais azedo e contribuir para os protestos; ou os protestos podem azedar o caldo.
A tendência básica do ano é de tudo
crescendo mais devagar ou na mesma: renda, emprego, consumo, inflação.
Há riscos de tumultos no câmbio, de o Congresso aprovar coisas como
renegociação de dívidas de Estados e municípios ou de o Supremo dar uma
tunda nos bancos no caso dos reajustes das poupanças dos planos
econômicos velhos. Tudo isso intoxicaria o ambiente econômico e, assim,
ânimos políticos, ao menos entre as elites.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde
1991. Foi secretário de Redação, editor de ‘Dinheiro’, ‘Opinião’,
‘Ciência’, ‘Educação’ e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda
temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos.
Blog da Josélia
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